O livro “Amor, Traição e Kizomba”,de Adelaide Miranda, chegou às minhas mãos de uma forma muito especial. Foi-me oferecido por uma amiga linda, que dança Kizomba e que conheci de uma maneira totalmente casual, num social onde se costuma dançar Bachata, Salsa e Kizomba. Além disso, o exemplar trazia uma dedicatória escrita pela própria autora especialmente para mim — um gesto que, sem dúvida, concedeu a essa amiga um lugar muito especial no meu coração.
Desde o momento em que recebi o livro, ele despertou em mim uma enorme curiosidade. Tive vontade de o ler de imediato, mas, por motivos pessoais, só consegui fazê-lo já em Madrid. O título, por si só, despertou lembranças de situações que vivi e presenciei no ambiente das danças — não necessariamente da Kizomba, porque, como costumo brincar, para a Kizomba tenho “dois pés esquerdos”! Prefiro dançar Salsa e Bachata, onde, pelo menos, sinto que tenho apenas “um pé esquerdo”, e a coisa flui melhor.
Confesso que, inicialmente, o livro não correspondeu exatamente ao que eu tinha imaginado. Criei na minha cabeça uma expectativa diferente, mas isso não significa que não tenha gostado. Pelo contrário: foi um dos poucos livros que me arrancou lágrimas sinceras, ao tocar em vivências que, embora não idênticas, ressoaram profundamente em mim.
Um dos momentos mais intensos foi o capítulo em que David descobre que a sua mulher se tinha envolvido com o seu irmão — o único irmão que ele ama imensamente. Essa passagem tocou-me de forma muito pessoal, porque também eu tenho um grande amor e respeito pelo meu irmão, e não consigo imaginar uma situação assim. Nunca vi a minha cunhada como uma mulher desejável, embora reconheça que é uma mulher muito bonita. Mas imaginar que algo desse género poderia acontecer comigo… a autora conseguiu arrancar-me lágrimas e deixar-me sem palavras. A dor transmitida é profunda e genuinamente humana.
A autora descreve o amor de David pela sua mulher com uma sensibilidade rara. A meu ver, a Kizomba, neste contexto, surge mais como uma terapia — um espaço de libertação emocional — do que como uma ferramenta de infidelidade, embora a história também explore esse lado da tentação e da fragilidade humana, sobretudo no envolvimento entre David e a sua professora.
Por um momento, pensei que a mulher de David acabaria por se envolver com Rodrigo, o homem que ela conhece nas aulas de Kizomba. Isso teria correspondido às minhas expectativas iniciais. Nesse capítulo, Adelaide Miranda conseguiu arrancar-me sorrisos pela forma como descreve o que David sente ao ver a sua mulher nos braços de Rodrigo. Pela profundidade e sensibilidade com que a autora expressa o turbilhão de emoções vividas por David ao presenciar essa cena.
Achei interessante a visão algo tradicional de David — de que a Kizomba só deve ser dançada entre casais. Essa ideia fez-me refletir sobre o mundo da dança social, onde, por vezes, um dos parceiros tenta impor regras sobre com quem o outro pode ou não dançar. Isso acaba por afastar pessoas que amam a dança e que encontram nela uma paixão, uma forma de expressão e liberdade. Curiosamente, muitas dessas pessoas acabam por regressar ao mundo das danças mais tarde, depois de uma separação ou do fim da relação — algo que o livro retrata de forma subtil e verdadeira.
No conjunto, a obra parece-me mais uma novela de ficção do que algo que facilmente se encontre na realidade. David é tão perfeito que parece ter sido encomendado por catálogo premium: dança como um deus angolano, cozinha como se tivesse vencido o MasterChef, decora como influencer de interiores e ainda tem uma conta bancária que faz inveja ao Cristiano Ronaldo. Fiel, romântico, trabalhador — um homem de uma só mulher e mil talentos. Quase irreal. Mas o livro, mesmo com esse David de novela turca, continua emocionalmente rico e cheio de verdade.
Gostei verdadeiramente do livro, mesmo sendo, para mim, uma leitura de uma só vez — daquelas histórias que se vivem intensamente e depois se guardam na memória. Fiquei particularmente feliz com a forma como Adelaide Miranda descreve as emoções através da dança, porque, nas suas palavras, encontrei um reflexo perfeito do que eu próprio sinto quando danço a minha Bachata ou a minha Salsa. Em resumo, “Amor, Traição e Kizomba” é um livro que me arrancou sorrisos e lágrimas — e isso, para mim, é o sinal mais bonito de uma boa leitura.
Dedicatória à minha amiga
A ti, minha querida amiga, que conseguiste surpreender o meu coração com este presente tão especial. Não foi apenas um livro que me ofereceste — foi uma experiência, uma viagem de emoções e reflexões que, de alguma forma, me tocou profundamente. O gesto de me ofereceres este livro, ainda por cima com uma dedicatória escrita pela própria autora, fez-me sentir um privilégio raro e uma ternura genuína. Obrigado por me recordares, através deste presente, que há pessoas que sabem dar — não apenas um objeto, mas algo que tem significado, alma e intenção. Este livro, e a tua forma de o ofereceres, garantiram-te um lugar especial na minha memória e no meu coração.
