Embora, segundo as minhas pesquisas, não existam estudos científicos que comprovem integralmente a minha hipótese, quero partilhar uma reflexão pessoal — nascida da experiência, da observação e de conversas que todos nós, homens, conhecemos, mas raramente ousamos verbalizar. Falo como homem, como alguém que cresceu num meio comum, entre colegas de bairro e de escola. E sabemos que, muitas vezes, são os mais crescidos que despertam ainda mais a curiosidade dos mais novos, contando e partilhando as suas “aventuras”. Isso é algo quase universal, o homem sente-se mais homem quando partilha as suas histórias com outros homens e o tema da masturbação fazia parte desse quotidiano oculto do nosso crescimento — e, muitas vezes, começou antes mesmo de chegarmos à per-adolescência.
Desde muito cedo — por volta dos oito ou dez anos — muitos rapazes começam a explorar o próprio corpo com curiosidade e, inevitavelmente, descobrem o prazer da masturbação. Nessa idade, o corpo ainda nem produz sémen, mas há uma substância aquosa — que no meu país, o Peru, chamamos de “água de coco”, pela semelhança com a cor do líquido do fruto do coqueiro — que sai durante a excitação. Liquido pré-ejaculatório (pré-seminal) e produzido pelas glândulas de Cowper. A sensação de libertar esse líquido é prazerosa e, mesmo sem sabermos, é o início de um condicionamento físico e mental.
Não é, como às vezes se romantiza, uma descoberta do corpo ou um “auto conhecimento sexual” profundo. O que realmente acontece é um ato mecânico e solitário: uma fricção repetitiva entre a mão e o pénis, alimentada por imagens mentais ou estímulos visuais — muitas vezes inspirados na pornografia ou na simples imaginação, normalmente ligada a uma figura feminina que pode ser o corpo, as pernas, o rosto — depende do gosto de cada rapaz — mas quase sempre envolve imaginar uma penetração, tal como se vê na pornografia e o corpo aprende a associar prazer com rapidez, descarga e isolamento. A mente, por sua vez, aprende que o prazer é um ato individual, orientado apenas para o resultado de ejacular. Recordo as conversas de bastidores entre rapazes — na escola, no bairro — em que se falava com orgulho sobre quantas vezes por dia cada um conseguia masturbar-se, como se fosse um troféu de virilidade. Esse comportamento, visto como natural ou até saudável por muitos especialistas e até por instituições internacionais de prestígio, é, na verdade, um treino inconsciente onde estamos a fortalecer um “músculo” — não apenas físico, mas também psicológico.
E esse treino tem consequências. Quando esses meninos se tornam homens, levam consigo o mesmo padrão e acreditam que ser um bom amante é conseguir penetrar durante horas, focando-se unicamente na própria satisfação e acreditando que a mulher também desfruta apenas com a penetração e com a duração do ato. Mas a verdade é que, depois de anos de auto treino na masturbação — sempre apressada, feita em segredo, com o objetivo de ejacular o mais rápido possível — o corpo aprende exatamente isso, rapidez. Fomos condicionados a associar prazer com urgência, a não saber controlar o ritmo, e por isso, ironicamente, quando chega o momento real, muitos homens não conseguem sequer sustentar um tempo razoável de penetração e o resultado é visível em todo o mundo, mulheres sexualmente insatisfeitas, relações sem profundidade erótica e uma desconexão crescente entre prazer e emoção. Muitos homens não sabem tocar, sentir ou simplesmente estar presentes durante o sexo — sabem apenas repetir o gesto aprendido desde a infância; friccionar e ejacular. Os estudos científicos confirmam parte do problema, a maioria dos homens atinge o orgasmo em praticamente todas as relações sexuais, enquanto as mulheres estão muito abaixo disso. Mas o que esses números não explicam é porquê. E talvez a resposta esteja nesse treino silencioso e invisível que começa tão cedo, moldando gerações de homens que associam prazer à rapidez, e sexo à descarga.
Hoje, vivemos num tempo em que muitas mulheres encontram mais prazer com outras mulheres, não porque rejeitam os homens, mas porque procuram o que os homens não sabem entregar: presença, tempo e toque consciente. Enquanto isso, muitos homens continuam prisioneiros de um hábito que acreditam ser libertador, mas que, no fundo, os programou para não sentir plenamente. Não digo que a masturbação em si seja um mal — mas sim que a forma como é praticada, e o contexto em que começa, criam um desequilíbrio profundo entre o corpo e a consciência. O homem aprende a ser um executor do prazer, não um partícipe dele. E talvez repensar a forma como nos relacionamos com o nosso próprio corpo — desde cedo — seja o primeiro passo para redescobrir o verdadeiro significado do prazer partilhado.
Hoje, felizmente, vejo nas redes sociais que este tema começa a ser falado com mais abertura. É inspirador ver mulheres a ensinar homens sobre como ser um bom amante, sobre a importância da escuta, do toque e do ritmo do corpo da parceira. Para mim, é simples: o homem precisa de treinar o seu lado feminino — pensar como uma mulher para dar prazer a uma mulher.
Tal como um polícia precisa pensar como um ladrão para o poder apanhar, não porque seja um ladrão, mas porque compreende o seu movimento. Talvez o verdadeiro homem seja aquele que tem a coragem de aprender o que o amor na intimidade sente, e não apenas o que o corpo faz. Porque, no fim, não é o tempo que dura o prazer, mas o tempo que permanece o que se sentiu.