No início, tudo parece mágico. As borboletas no estômago, os olhares curiosos, os sorrisos — ora tímidos, ora intensos —, as conversas que se prolongam pela madrugada… Esta fase inicial é marcada por um encantamento mútuo, onde tudo é novo e especial. Há uma atracção intensa, quase alquímica, que muitos especialistas identificariam como um estado leve de limerência — um turbilhão emocional potenciado por neurotransmissores como a dopamina, serotonina e oxitocina, que geram sensações de euforia, entusiasmo e uma ligação quase imediata. Estudos da Universidade de Harvard indicam que esta fase pode durar entre 6 meses a 2 anos — um período precioso que serve como alicerce (ou não) para o desenvolvimento de uma ligação mais sólida e duradoura. Mas mesmo antes desta fase mais “química”, existe o momento do encontro — aquele instante em que duas pessoas se cruzam. E a verdade é que isso pode acontecer nos contextos mais inesperados.
Lugares onde tudo pode começar (segundo a minha experiência)
Se há algo que aprendi, tanto ao ouvir histórias de outros como ao viver as minhas próprias, é que o amor não respeita horário nem cenário. Ele não tem vergonha de ser aleatório — e é aí que reside parte da sua beleza. O amor pode surgir:
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Num voo apertado, partilhando o mesmo apoio de braço.
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À saída de uma casa de banho, com um pedido de desculpa apressado e um sorriso genuíno.
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Numa pista de dança, entre passos desajeitados e toques improvisados.
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Numa notaria, universidade ou escola, a pedir um lápis emprestado.
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Num jantar de amigos, onde a química nasce entre brindes e olhares cúmplices.
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Numa fila de supermercado, a discutir se vale a pena levar aquele chocolate.
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Num ligeiro acidente de trânsito, onde o susto se transforma em conversa.
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Sob uma tempestade, a partilhar o mesmo toldo ou guarda-chuva.
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Num jardim, ao passear com os filhos ou os cães.
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Na praia, ao ajudar alguém a montar o chapéu de sol.
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No cinema, quando se tropeça em alguém com o balde de pipocas na mão.
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Num café, por causa de um engano nos pedidos.
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Numa Sexshop, a debater a eficácia de um brinquedo.
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Numa farmácia, a pedir preservativos femininos e conselhos de utilização.
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Num restaurante ou esplanada, ao notar que a outra pessoa também está sozinha.
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Até mesmo num elevador, onde um silêncio constrangedor é quebrado por um elogio sincero.
Estas situações, por mais caricatas ou improváveis que pareçam, mostram que o amor — ou pelo menos o interesse inicial — pode surgir onde menos se espera. Daí nasce a troca de contactos, as primeiras mensagens, e o tão aguardado primeiro encontro. Hoje em dia, não é raro que, logo nesse primeiro encontro, as pessoas avancem diretamente para a intimidade. E, embora isso possa ser sinal de forte conexão, não determina, por si só, a durabilidade ou profundidade de uma relação. Os tempos mudaram. Noutros tempos, até um beijo carregava o peso de um compromisso. A intimidade era quase um selo de exclusividade. Hoje, esse código já não se aplica a todos. Por isso, Como sabemos quando começa um relacionamento “a sério”?
Alguns dirão que é quando assumimos publicamente a ligação: redes sociais, mãos dadas, abraços em público. Mas quem já viveu o suficiente sabe que nem isso é garantia de entrega real. Pessoalmente, quando me envolvo emocional e fisicamente com alguém, procuro pertencer a essa pessoa, mesmo que não exista um rótulo ou compromisso formal. Tento respeitar essa conexão, mesmo sabendo que não posso esperar que o outra tenha a mesma visão. E sim, já caí na armadilha de justificar deslizes com a ideia de que “não era algo sério”. No entanto, o que realmente importa nesta fase é a honestidade emocional. Falar com clareza, com empatia e sem manipulação. Seja para um compromisso sério, seja para algo mais leve e momentâneo, o que importa é ser transparente desde o início. Algumas chaves essenciais para esta fase:
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Autenticidade acima de tudo. Não finjas ser quem não és. A longo prazo, isso desgasta emocionalmente e contamina qualquer possibilidade de conexão real.
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Procura afinidades verdadeiras. Ter interesses, valores ou visões partilhadas é uma base forte. Nem tudo tem de coincidir, mas ter pontos de encontro facilita muito a construção da relação.
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Não te deixes levar apenas por aparência ou conversa envolvente. A atração física e intelectual atrai, mas o que sustenta é a compatibilidade de essência.
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Em vez de tentares “descobrir” se encaixam, procura “reconhecer” compatibilidades. A palavra «reconhecer» implica observar, estar presente, deixar que os sinais se revelem sem forçar.
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Evita idealizações. Nenhuma relação começa perfeita — e a beleza está na imperfeição acolhida com respeito e entrega mútua.
Conclusão: o respeito como pilar essencial
Este artigo dirige-se, acima de tudo, a quem procura um relacionamento verdadeiro e consciente. E, nesse caminho, é fundamental ter clareza sobre conceitos essenciais como amor, respeito, comunicação, ego e entrega. Para mim, o respeito é o pilar fundamental. O respeito pelos pensamentos, pelas crenças, pelos preconceitos, pela forma de vestir, de sorrir, de falar, de comer, de se exprimir, de se mover no mundo. O respeito por tudo o que a outra pessoa é — inclusive, por aquilo que em nós gera desconforto.
E se há algo que o outro faz e te incomoda profundamente, fala. Com calma, com amor, com verdade. E se essa atitude, hábito ou valor é algo que a outra pessoa não está disposta a rever, talvez seja um sinal claro para ponderar a continuidade da relação.
Outro ponto essencial é o tempo e a disponibilidade emocional que estás disposto(a) a investir. Embora eu acredite que o tempo, por si só, não define a profundidade de uma ligação — pois tudo depende da sinceridade, da comunicação e da autenticidade com que se vive cada momento — é preciso consciência: cada pessoa é um universo, e cada relação é única. No final, uma relação saudável constrói-se entre duas pessoas dispostas a serem verdadeiras, a crescerem juntas, a respeitarem-se e a ouvirem-se — mesmo quando isso é desconfortável.
@ Num próximo capítulo, mergulharei em temas profundos quanto essenciais: como a confiança — essa semente frágil que sustenta qualquer relação duradoura —, exploraremos a sexualidade com responsabilidade e coragem, e refletiremos sobre o que devemos (ou não) partilhar nas nossas conversas mais íntimas. Porque amar vai muito além do encantamento inicial… é também saber até onde podemos abrir a alma….
“Quem ama não espera o momento perfeito — ama no instante mais improvável.”