Dançando entre Fronteiras

A dança sempre foi, para mim, mais do que uma forma de expressão — é uma paixão que atravessa fronteiras, ritmos e culturas. Nascido no Perú, cresci ao som da salsa, cumbia, merengue, vallenato, bachata e entre outros. Aprendi a dançar da forma mais natural e autêntica possível, entre familiares, festas de bairro, encontros improvisados — um tipo de aprendizagem que acontece com o coração antes mesmo de chegar aos pés. Com o tempo, tive a oportunidade de viajar por diversos países da América e algo sempre me chamou a atenção, cada país tem a sua própria maneira de sentir e viver a dança. Nenhuma forma é melhor que a outra — cada uma tem o seu sabor, a sua essência, o seu contexto. E isso é o que torna os ritmos tão especiais: são vivos, plurais e cheios de alma. Hoje, divido a minha vida entre dois lugares que me encantam profundamente: Lisboa e Madrid. Cada uma destas cidades, com a sua alma e energia tão próprias, acolhe comunidades vibrantes que respiram Salsa e Bachata com uma paixão contagiante. Foi aqui, entre noites de dança e aulas cheias de ritmo, que dei início a uma nova etapa da minha jornada.

Comecei a procurar aprender de forma mais técnica, com professores, escolas e métodos estruturados. Não porque sonhe em ser profissional, mas porque acredito que quanto mais mergulho no ritmo, mais capaz sou de transmitir a alegria genuína que a música desperta na minha alma. Quero dançar com consciência, presença e entrega — não só mover os pés, mas deixar que cada passo conte uma história, que cada compasso revele uma emoção. Quando compreendemos a estrutura, a linguagem e a essência de um ritmo, podemos dançar não só com o corpo, mas com o espírito.

Ao longo deste caminho, fui observando algumas diferenças marcantes entre Lisboa e Madrid. Em Madrid, por exemplo, sinto que a salsa e a bachata são vividas com uma intensidade e um nível técnico impressionantes. Talvez pelo facto de a Espanha ter sido, há décadas, um destino principal para imigrantes do sul e do centro de américa, criou-se uma fusão cultural que alimentou e refinou esses ritmos. Diria que Madrid é, hoje, um dos centros mais fortes da bachata e da salsa na Europa. Por outro lado, em Lisboa, há algo mágico a acontecer com a kizomba. A conexão com as culturas africanas, em especial com Angola e Cabo Verde, transformou Portugal num dos maiores centros desta dança no mundo. O nível técnico e o sentimento posto na kizomba dançada em Lisboa é algo que raramente vi em outros lugares — incluindo Madrid.

Confesso, no entanto, que o caminho técnico tem os seus desafios – pelos menos para mim – Ainda me custa coordenar tudo ao mesmo tempo. A música, a ligação com a parceira, a técnica, a sequência,  e contar é como tentar segurar a alma e o raciocínio num mesmo abraço. Mas gosto da experiência. E há momentos — especialmente nos sociais — em que esqueço tudo isso e deixo que o coração assuma o comando. É nesses instantes que a magia acontece. Sinto que algo das aulas fica, que cada passo me leva um pouco mais longe, que aos poucos vou florescendo, um pouquinho de cada vez.

Vivemos uma era maravilhosa de trocas culturais. As fronteiras tornaram-se linhas invisíveis e os ritmos viajam connosco. A cada dia, mais centro e sul-americanos chegam a Espanha, a Portugal, à Europa, e trazem na pele e no peito os sabores da dança e com o tempo — talvez anos, talvez décadas — acredito que essas diferenças entre estilos e abordagens se vão fundir. Vamos aprender uns com os outros. Vamos crescer juntos. E mais do que isso: vamos continuar a dançar. Se posso deixar uma mensagem para quem me lê é esta:

Dança com o coração. Dança como se ninguém estivesse a ver. Dança mesmo quando não sabes a contagem ou o nome do passo. Porque a técnica pode ser ensinada — mas a paixão, essa… ou vive em ti, ou não vive em lugar nenhum.”

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